Epifanisses

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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Implicações


“Se tem uma coisa que eu sei com propriedade de causa é ser solteira. Ainda bem.” – Foi o que me passou pela cabeça ao ver uma amiga que acabou de terminar um namoro de cinco anos cobrando explicações (que talvez uma esposa cobraria de um marido) de um completo estranho que ela nem sequer teve nada. Se relacionamento traz maturidade e experiência, ser solteiro traz muito mais. Ao invés de aprender com uma pessoa certa, você aprende com várias erradas. E viver alguns relacionamentos que não deram em nada traz bagagem também. Ficamos mais céticos? Com certeza, mas pelo menos aprendemos a não nos doar em vão, não esperar nada de pessoas que sabemos que não vão levar a nada além daquilo que elas mostram. Aprendemos também a identificar exatamente quando um novo relacionamento caminha na mesma trajetória dos tantos outros que foram tão pouco. As pessoas têm sido tão pouco umas com as outras ultimamente.
Uma das questões que se torna essencial pra perceber um relacionamento é o quanto a pessoa se implica por você. E esse é um mal estar geral que assola a minha geração. As pessoas não se implicam mais umas pelas outras. E o que seria se implicar por alguém? Incluir realmente essa pessoa na sua vida. Saber que você tem mil coisas pra fazer nas atribulações do dia a dia, mas automaticamente arranjar um tempo pra colocar a pessoa nesse cotidiano. Mas se implicar por alguém não é tão somente deixar a pessoa fazer parte da sua rotina, e sim permitir que ela entre em sua vida. E isso é missão difícil. De nada adianta incluir alguém em sua rotina, mas quando sair dela esquecer totalmente que esse alguém existe. Afinal, se relacionar vai muito além disso. Colocar alguém em suas atividades diárias todo mundo consegue, é fácil: eu acordo todos os dias às oito da manhã, vou trabalhar, almoço às treze, escovo os dentes, vou estudar, vou pra academia, volto, durmo, acordo de novo. Às segundas tenho inglês, às quartas tenho pilates, às sextas saio com você. Difícil mesmo é pensar em uma maneira de colocar a pessoa em sua vida, isso inclui se relacionar com seus amigos, com sua família, com seu estilo de vida fora da rotina, nas suas viagens, nos seus planos.
Além da falta de implicação entre as pessoas, outra característica bem típica desse mal estar coletivo é a falta de coerência entre palavras e atitudes. Esse sim é um fator crucial para definir os rumos de qualquer relação e entendê-lo requer maturidade: o quanto o que uma pessoa faz por você corresponde com o que ela fala pra você?! Afinal, fácil é dizer que sente saudades”, difícil é driblar os contratempos pra ir matá-la. Fácil é falar “vamos nos ver”, difícil é, frente aos dias tão cheios de coisas para fazer, abrir mão de alguma delas e conseguir um espaço. “Conta comigo” é tão fácil perto de realmente fazer a diferença e ajudar. E “eu te amo”? Ah, se conseguíssemos dar conta de metade das coisas que falamos, amar estaria subentendido e provado.
E como fazer com que alguém se implique por você? Não há fórmula mágica, receita de bolo ou mapa. Mas o que tenho concluído é que você deve se implicar por esse alguém. Deve, como diz a mãe de uma amiga, mostrar a que veio. Mostrar quando algo te incomoda, mostrar quando você se sente inseguro e quando fica confuso. Se fazer claro sem cobranças. Afinal, quando você precisa cobrar algo de alguém já demonstra o quão desigual está ocorrendo essa implicação entre vocês.

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