Epifanisses

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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Pra você


Coisas e coisas me passam pela cabeça. Algumas vêm de situações vividas e outras de situações impostas pela vida. Entre essas e outras, algo me instiga: um sentimento acaba ou se transforma? Será que é possível se tornar amigo de alguém que um dia já foi um grande amor ou é pura perda de tempo?
Foi em tentar responder essa questão experimentando que falhei. A resposta que fica pra mim, pelo menos, é que sim, é possível um grande amor se transformar em amizade.  Sentimentos não morrem, eles se reciclam, mas para haver amizade é necessário que a reciclagem seja feita por ambas as partes. Caso contrário, essa sentimento transformado sempre vai parecer segunda intenção ou tentativa de resgate de uma coisa que já não existe mais.
Se o “ser amigo” não estiver acontecendo é porque em alguma das partes envolvidas o processo de transformação não foi feito e não é algo para se julgar. Os seres humanos têm tempos de processamento diferentes uns dos outros, e, ao mesmo tempo, isso não quer dizer que tal pessoa te ame ainda como amou um dia, talvez ela só não tenha conseguido libertar o sentimento a ponto de transformá-lo em amizade. O que importa é não haver engano.
Aquela pessoa que você achou que era o amor da sua vida e não deu certo não deve ser excluída permanentemente do seu cotidiano, a menos que ela tenha dado bons motivos para isso. Ela ainda pode ser “da sua vida” de uma forma diferente, até porque... (Será que se eu escrever que acredito em várias reciclagens ao longo da existência eu vou estar parecendo alimentar esperanças  em mim mesma ou querendo dizer algo que na verdade eu nem pensei? )
Fato é que pensar nisso me remete a certas situações e é aí que me vem à cabeça, praticamente como um recado um tanto quanto pessoal: você acha mesmo que depois de tantas noites sem dormir pensando, tantos momentos pra guardar pra sempre e tanta certeza de amor pra vida toda,  o único sentimento que eu sou capaz de criar por você é a indiferença? Porque eu não acredito na possibilidade de você nutrir este sentimento em relação a mim.


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Sobre borboletas e náuseas

           "Se não lhe der sossego: não é amor, é apego." Ouvi isso da minha melhor amiga recentemente e comecei a pensar no quanto as coisas seriam mais fáceis se a gente soubesse diferenciar um sentimento do outro, em como a gente se iludiria menos e talvez sofreria menos se desde o princípio de um relacionamento fosse possível separar amor de apego. Percebi então que só quem amou de verdade pode parar pra fazer essa distinção e quando se começa, as coisas ficam tão (ou não) mais fáceis.
          É teoricamente simples. Preto no Branco. Apego é aquilo que vem e não te permite pisar no chão da realidade, apego é aquilo que te dá nó na garganta, é quando você não consegue encontrar motivo nenhum pra estar com alguém que não seja o "eu preciso estar". É o que te faz deitar no travesseiro sem conseguir conjecturar um futuro por simplesmente faltar bons estímulos à imaginação, é o que te leva a tentar arranjar desculpas e histórias que justifiquem todas as frustrações ou lacunas que a outra pessoa te traz. É viver uma montanha russa de emoções baratas ao invés de solidificar um caminho de plenitude. O barato sai caro. Você tenta provar que ama em dobro porque faltam motivos pra você acreditar na reciprocidade desse sentimento.
          E amor? Amor é o que se passa quando existe "nós". Infelizmente, o que anda acontecendo é a existência de muitos "eus", "elas", "vocês", "eles", "os", "as" e a carência de "nós". Falar de amor é falar do que dá certo, do que traz equilíbrio, do que se divide e soma, do que se complementa e suplementa. De quando nenhum obstáculo, seja ele geográfico, emocional, físico, pessoal impede duas pessoas de se unirem para serem "nós", para construírem objetivos comuns.
         Talvez esse texto fale sobre muitas coisas que passam ao mesmo tempo para mim, talvez nem eu mesma consiga tirar do papel essa diferenciação, mas o que eu tenho como fato é que amor não te traz náuseas, apego sim. Amor traz frio na barriga. Enquanto eu não encontro as respostas pras minhas próprias questões das quais eu discurso tão bem sobre no infinitivo, incógnitas permeiam meu pensamento: será que um dia eu e você seremos "nós" ou eu ando confundindo náuseas com um turbilhão de borboletas?