Epifanisses

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sobre você: minhas expectativas e frustrações



Há quem diga que excesso de expectativa é o caminho mais curto para a frustração ou ainda afirme o clichê “sem expectativas, sem decepções”. Tenho que confessar as muitas vezes que eu mesma usei essas frases prontas tentando provar para mim mesma que eu não estava colocando uma carga de energia muito grande em certas pessoas ou situações quando muitas vezes estava. Agora me encontro em pensamento contrário: arrisco dizer que ilusão é infantilidade, mas expectativa colocada sobre algo é inerente à nossa condição.
A expectativa sobre alguém nasce de atitudes do cotidiano, de gestos simples como um elogio, um convite pra almoçar, um olhar intenso, uma troca de sintonias. E quando, de repente, essa expectativa vira frustração: tenho eu culpa de criá-la baseada em fatos vividos e me decepcionar repentinamente? Talvez, em partes, relativamente.... Mas o fato é que para se criar uma expectativa sobre alguém é necessário este mesmo alguém estar do outro lado dando suporte para essa criação.
Ninguém acredita em outra pessoa à toa, ninguém faz planos conjuntos sozinho. Eu posso estar errada em criar essa expectação mas tem outra pessoa que precisa entender sua considerável participação por possibilitar estes pensamentos em mim. Isso é crescer. É um pouco sobre aquilo de se tornar eternamente responsável por aquilo que cativa. Se eu criei expectativa e me decepcionei, eu fui humana, se você viabilizou este processo em mim e não foi capaz de assumí-lo, você foi irresponsável.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Tempo, senhor da razão


             Se tem um jargão que eu estou acostumada a ouvir de avós, professores e pessoas de gerações um pouco mais distantes da minha é “vocês jovens não param com ninguém, é um tal de ficar com um aqui, ficar com outro ali...” e de tanto ouvir esse tipo de comentário comecei a me questionar: será que falta amor nessa minha geração tribalista “eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também”?! E essa foi uma dúvida que permeou meus pensamentos por bastante tempo, que me vinha à cabeça em diversas situações e até mesmo me assustava quando via um amigo terminar o relacionamento com o “amor da vida” e dois meses depois encontrar um novo romance “eterno de 7 meses”.
              Foi quando percebi que não, não falta amor! Muito pelo contrário, às vezes sobra amor mas falta experiência. E quando eu digo experiência, não estou me referindo ao conhecimento sobre determinado assunto, mas sim àquela muito bem colocada por Walter Benjamin como sendo "aquilo que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece.” E aí entendi o que há com a minha geração: muita coisa nos passa, pouca coisa nos acontece.
          As pessoas não formam laços, pouco se vinculam para além das redes sociais e acabam por não construir uma experiência coletiva não por serem piores do que as de antigamente ou desprovidas de amor, mas sim por falta de tempo e falta de tempo gera intolerância, afinal, se você não tem tempo a perder por que tentar entender o outro? Por que conviver com o defeito?
             É o tempo que permite construir a experiência, pois precisamos dele para nos modificar. Ao contrário, seremos espíritos cheios de vivências mas escassos de experiência. Um bom exemplo de como o tempo afeta a construção da experiência é quando fazemos uma viagem e ao voltarmos falamos: “Esse mês fora me fez amadurecer mais do que um ano aqui”. Amadurecer significa adquirir experiência, o que em uma viagem é totalmente possível por você estar desligado da vida real, ou seja, com tempo de viver e aberto às transformações. A vida real não nos dá tempo. Será que seriam necessárias 36 horas por dia para concretizarmos experiências ou elas às vezes nos passam silenciosamente? Fato que ela está escassa, mas tenho certeza de que ela ainda não foi extinguida, caso contrário, estaríamos andando para trás.
             Declaro guerra romântica ao vazio.
             Por uma vida que me permita ir a um museu e ter tempo para processar arte, ouvir uma música e ter tempo para decorar versos, amar e ter tempo para fazer poesia.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Notas sobre meu relicário


             Mais de um ano sem escrever aqui por muitos motivos, entre eles, a minha preocupação de não criar um alimentador de recalque, de viver olhando pra trás e não enxergar o presente que me cerca. Porém, de uns tempos pra cá, parei de ver este debruçar sobre o passado como uma fraqueza e comecei a percebê-lo como uma virtude. Virtude de quem é provido de subjetividade e que tem o discernimento de que olhar para o passado não se trata de lamentar o que já foi, mas sim de tentar entender o que se passa neste tempo que chamamos presente. É o aquilo sem nome, sem foco que move nossas vidas e que a psicanálise chamaria de “o desejo” e que eu defino como norteador das minhas escritas. Só quem tem um passado, uma narrativa, pode falar de presente.
            Cria-me um certo estranhamento ouvir algumas pessoas falarem: “Você tem que viver um dia após o outro sem olhar pra trás e sem pensar no amanhã. Viva o momento!” O que seria desta vida se a gente não pudesse olhar para a nossa história e desejar o que queremos pro futuro? Apesar de concordar que temos que estar conectados no que agora se passa, para mim, este pensamento nada mais é que uma tentativa de justificar a impulsividade (característica que muito me é familiar e me prejudicou incontáveis vezes)
Eu adianto que neste espaço você não vai encontrar o clichê “25 erros que você não deve cometer em um relacionamento” e, muito menos “como resolver sua vida amorosa em 17 passos”. Fujo deste maniqueísmo brega de categorizar pessoas entre bem e mal intencionadas, falsas ou verdadeiras, maduras ou não e é aí que vejo encanto nas coisas que escrevo. Não dou conselhos prontos, mas me questiono e , muitas vezes (outras também não), resoluções emergem destas perguntas que me faço. São questionamentos algumas vezes sem saída que depois de um tempo, quem sabe um ou dois anos, voltando a ler vejo que encontrei as respostas perdidas por aí, não em manuais mas em minha própria experiência, no meu próprio arquivo. E é por isso que eu carinhosamente chamo este espaço de relicário que guarda minha maior riqueza: os pensamentos do que me passa e me toca de alguma forma.