Epifanisses

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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Entre meditações e edições


 “Depois de muito meditar, resolvi editar tudo que o coração me ditar.” 

 

Agradeci Leminski em pensamento por me proporcionar em forma de poema um sopro inicial pros meus desabafos. Ando tão saturada de ouvir as mesmas perguntas sobre as mesmas situações que decidi tentar respondê-las da melhor maneira que eu encontro: escrevendo. “Você não cansa de estar sozinha? Não namora porque não quer ou porque não te querem?”        
O termo estar sozinho é em si mesmo muito complexo. Estar sozinho pode significar estar muito mais bem acompanhado do que podemos imaginar. Foi na solidão que eu encontrei maturidade pra formar meus pensamentos, pra traçar meus planos, escrever meus textos, ler quantos livros eu quisesse em uma noite inteira. Portanto, não, eu não canso de estar sozinha porque foi estando assim que eu encontrei a minha melhor companhia: eu mesma. O que me fez muito mais seletiva do que antes. Melhor do que ser escolhida por alguém é poder escolher a pessoa certa.
Apreciar a solidão não significa não querer ter uma pessoa do nosso lado. Afinal, é impossível ser feliz sozinho. Alegria dividida é muito mais prazerosa e até a felicidade fica mais feliz à dois. Porém, não devemos nos enganar achando que só ter alguém pra chamar de nosso vai nos trazer plenitude. E aí eu aproveito pra responder a segunda indagação mais chata que tenho ouvido nos últimos tempos. Não namoro porque não estou em busca de um rótulo, eu quero muito mais que isso e mereço muito mais também. O que eu anseio é estabilidade emocional pra compartilhar.
A solidão além de nos tornar seletivos, nos proporciona uma certa aversão a um tipo de relacionamento que tem se tornado o mais popular dessa geração: o relacionamento instantâneo. A moda é gostar e desgostar, se importar e não dar a mínima em tempos recordes. Coisa de uma semana, um mês no máximo. Aí eu questiono: se for pra estar com alguém que te leva flores com um cartão cheio de declarações em um dia e no outro seguinte não te liga e não te procura (e hoje em dia sabemos muito bem que só não procura quem não quer), não é muito mais vantajoso emocionalmente estar sozinho?
Considerando que não temos bolas de cristais suficientes no mercado pra dar conta de responder à todas essas inconstâncias que as pessoas vivem e pior, nos metem a viver também, só vejo dois remédios pra curar esse mal instaurado nos relacionamentos atuais: tempo e sinceridade. Tempo porque nada sólido se constrói com pressa, tudo requer tempo pra ganhar forma e não seria diferente em um relacionamento. E sinceridade porque infelizmente não podemos adivinhar o que se passa com o outro se muitas vezes nem ele mesmo sabe o que acontece. Sinceridade é o sentimento mais responsável que podemos ter para com o outro. O coração me ditou, eu editei: chega de efemeridade.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Releitura Perigosa


Best-sellers sempre me instigam. Não sou uma daquelas leitoras restritas à um mesmo tipo de livro. Crítica talvez, mas aberta à toda nova experiência literária. É o que me ocorre com os tais best-sellers, mais especificamente os romances épicos. Ouço falar de um livro por algumas amigas, posso até resistir, o vejo em primeiro lugar na prateleira da livraria, começo a pensar em ler, mas devo sinceridade: pessoas lendo o mesmo livro no metrô – veredito final.
Vamos ler esse tal “sucesso de vendas que mais de um bilhão de pessoas leram” afinal leitores devorando uma mesma obra totalmente concentrados em um trem pequeno e em movimento e o pior, lotado de gente, penso: alguma coisa interessante este livro deve ter. E foi lendo títulos como a saga Crepúsculo e 50 Tons de Cinza que comecei a me perguntar: o que esses livros que atingem pessoas mais distintas entre si tem de interessante? O que eles tem em comum?
Ambos são o que eu defino como A Bela e a Fera moderno. (Isso mesmo, aquele clássico Disney em que a Fera, uma criatura amarga e desprovida de qualquer sentimento se transforma em um príncipe quando se apaixona pela Bela. Nem preciso dizer que eles vivem felizes para sempre.) A mesma velha história em uma releitura que cabe como uma luva pra mulher atual. Afinal, em tempos de (quase) igualdade entre os gêneros, o livro fornece à leitora o que toda mulher deseja: transformar um cara impossível em namorado, noivo, marido... Afinal, qual a graça em ter o bonzinho se conquistar o vilão e fazê-lo herói é muito mais interessante? Esse é o modelo de homem que as mulheres contemporâneas andam procurando em todo o canto.  
Mas será que esse tipo de história está para além dos livros? É possível modificar totalmente as atitudes de uma pessoa fazendo ela se apaixonar por você ou isso é apenas ilusão romântica? Será que as mulheres em geral deveriam buscar um outro tipo de homem?
É no meio de tantos questionamentos que faço uma confissão: demorei meses para concluir esta crônica e o motivo foi não conseguir definir qual seria um tipo de homem digno de best seller. Esta ideia veio se alterando conforme o tempo e as vivências, pessoais ou não, aconteciam e só consegui ter certeza de uma coisa: tentar modificar alguém além de egocentrismo é pura ingenuidade. As pessoas encontram-se em níveis diferentes de evolução. Infelizmente, esse é um modelo de relacionamento que só dá certo em livros e tentar reproduzí-lo na vida real pode gerar um grande desapontamento. 
 E qual seria o tipo de homem que deveria fazer sucesso nos grandes títulos da literatura? Talvez não haja um modelo perfeito comum. Provavelmente, eu tenha um tipo e você tenha outro ou até mesmo tipos nem existam, porque na vida real a gente encontra a felicidade no que está além das categorizações, escondido, e que, de repente, aparece e a gente simplesmente ama sem precisar mudar nada. Ama do jeito que é.