Mais de um ano sem escrever
aqui por muitos motivos, entre eles, a minha preocupação de não criar um
alimentador de recalque, de viver olhando pra trás e não enxergar o presente
que me cerca. Porém, de uns tempos pra cá, parei de ver este debruçar sobre o
passado como uma fraqueza e comecei a percebê-lo como uma virtude. Virtude de
quem é provido de subjetividade e que tem o discernimento de que olhar para o
passado não se trata de lamentar o que já foi, mas sim de tentar entender o que
se passa neste tempo que chamamos presente. É o aquilo sem nome, sem foco que
move nossas vidas e que a psicanálise chamaria de “o desejo” e que eu defino
como norteador das minhas escritas. Só quem tem um passado, uma narrativa, pode
falar de presente.
Cria-me um certo estranhamento ouvir algumas pessoas falarem:
“Você tem que viver um dia após o outro sem olhar pra trás e sem pensar no
amanhã. Viva o momento!” O que seria desta vida se a gente não pudesse olhar
para a nossa história e desejar o que queremos pro futuro? Apesar de concordar
que temos que estar conectados no que agora se passa, para mim, este pensamento
nada mais é que uma tentativa de justificar a impulsividade (característica
que muito me é familiar e me prejudicou incontáveis vezes).
Eu
adianto que neste espaço você não vai encontrar o clichê “25 erros que você não
deve cometer em um relacionamento” e, muito menos “como resolver sua vida
amorosa em 17 passos”. Fujo deste maniqueísmo brega de categorizar pessoas
entre bem e mal intencionadas, falsas ou verdadeiras, maduras ou não e é aí que
vejo encanto nas coisas que escrevo. Não dou conselhos prontos, mas me
questiono e , muitas vezes (outras também não), resoluções emergem destas
perguntas que me faço. São questionamentos algumas vezes sem saída que depois de
um tempo, quem sabe um ou dois anos, voltando a ler vejo que encontrei as respostas
perdidas por aí, não em manuais mas em minha própria experiência, no meu
próprio arquivo. E é por isso que eu carinhosamente chamo este espaço de relicário
que guarda minha maior riqueza: os pensamentos do que me passa e me toca de
alguma forma.