Epifanisses

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sábado, 21 de fevereiro de 2015

(Ím) Par

             De uns tempos pra cá, tenho procurado observar as constantes da minha existência. Ouvi dizer que faz parte da crise setenária que eu teoricamente me encontro, àquela que se dá aos vinte e poucos anos, momento o qual você já tem certa bagagem emocional e é capaz de olhar pra trás e analisar passagens da sua vida com a maturidade necessária pra entender aonde acertou e aonde cometeu erros. O mais engraçado é que quando paramos pra analisar o que deu errado, geralmente percebemos as nossas constantes: aquilo que se repete e repete em nossas ações, que levam à um mesmo ponto e que geralmente nos fazem andar em círculos. Elas são quase como manias comportamentais. E foi nessa reescrita mental de memórias que andei percebendo várias dessas constantes em mim mesma e quais eu não queria de jeito nenhum que se repetissem daqui pra frente. 
               Uma delas vem martelando na minha cabeça há meses e talvez não seja tão particular assim: já parou pra pensar em quanto tempo e energia doamos ao dar chances a algumas pessoas por acreditarmos verdadeiramente que elas são as certas? Antes que venha à cabeça o clichê "me iludir pela pessoa errada" já faço questão de avisar que não é disso que se trata (pelo menos, não desta vez). Estou falando daquelas pessoas que são realmente boas, honestas, espirituosas, compreensíveis, sensatas...  E aí, por elas possuírem um conjunto de qualidades que acreditamos ser certas, tendemos a achar que elas serão nosso par perfeito. E insistimos em construir essa perfeição na nossa cabeça por meses e meses... O problema é que um dia as atitudes dessas pessoas para com você começam a não corresponder com as atitudes que elas demonstram ter individualmente. E você bate a cabeça na parede e se decepciona muitas vezes, dezenas delas até, achando que você acreditou em alguém que nunca existiu ou que se mostrou falsa com o tempo quando na verdade não é essa a questão.
                E aí, um dia você percebe essa constante e cresce. Descobre que, de fato, essas pessoas são muito boas, honestas, espirituosas, compreensíveis, sensatas... Mas sozinhas! Ou pelo menos, não com você. E isso se dá por um motivo bem simples: elas não gostam de você da mesma maneira que você gostaria que gostassem. E quando a gente não gosta, não adianta. Nem a pessoa mais repleta de virtudes do mundo vai conseguir não te fazer mal, mesmo que sem perceber, porque, no fundo, ela não corresponde à sua expectativa. E isso não as faz serem indivíduos menos bons.
            Crescer é isso. É não aceitar mais ser vítima dos clichês da vida, mas sim insistir em entender porque eles viraram tão comuns na sua história. É saber que desejar que determinada pessoa seja aquela "certa" pra você não fará com que ela realmente seja. É perceber que alguém ser um bom ímpar não necessariamente faz com que seja um bom par pra você e com você, e insistir no contrário, meu caro, é puro gasto de energia.